quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

AS DELÍCIAS DO FIM DE ANO MINEIRO


Chegou o fim do ano e com eles as apetitosas festas em família. Momentos únicos de celebração e convívio. Por ser mineiro acredito ser ainda mais privilegiado nessas ocasiões, afinal qualquer evento numa boa família mineira é motivo para confraternizar na cozinha. Festas de fim de ano são os maiores exemplos. Mas sejamos honestos, o que seria de toda essa comida se não fosse a família e a convivência? 

Meu pai é sempre o responsável por elaborar um dos principais pratos das festividades. Como todo bom mineirinho as escolhas culinárias são sempre lights!! Uma feijoada aqui, uma leitoa ali, um pernilzinho acolá, tudo acompanhado dos preciosos petiscos: linguicinha, chouriço, torresmo, mandioquinha frita, polenta frita, bolinho de arroz e pastéis. Como podem verificar nada que sobrecarregue muito o fígado ou o pâncreas, somente alimentos de fácil digestão. Alias a digestão é tão fácil que o corpo fica com preguiça. Basta acabar o almoço e todo mundo procura um cantinho sossegado para tirar um cochilo.

Mineiro bom bebe pinga. Não gostamos dessas bebidinhas importadas. Nosso trem (trem é qualquer coisa para o mineiro, serve para tudo!) é com a tradicional pinga ... que em outros estados ganhou o nome grande de cachaça. Mas não venham com pingas industrializadas, gostamos mesmo das artesanais, tiradas dos destiladores antigos de cobre, onde o gotejar contínuo dá vazão ao líquido que será envelhecido em tonéis de madeira boa como o carvalho. Nossas deliciosas pingas !! Como esse trem é forte, tomamos junto uma cerveja ou outra para ajudar a matar a sede. Gostamos tanto das pingas que quase todos os pratos citados no parágrafo anterior levam a danada na sua confecção. Pururucamos a pele da leitoa com pinga ... temperamos a feijoada com um cadim (para quem não conhece as medidas mineiras, cadim é menos que um pouquim e mais que um cadiquim uai!!), uma dose no pernil para entranhar na carne e por aí vai.


Evento assim tem que ter nossos doces e se tem uma coisa gostosa em minha terra são os doces caseiros. Cada família desenvolve uma especialidade e nada dessas sobremesas regadas a coisas artificiais. Faça qualquer trem e coloque creme de leite, você irá perceber que o prato melhora bem. Cozinha mineira não leva esse trem não. Lá tem muito ovo, muito leite e muito açúcar. É quindão, rabanada, ambrosia caramelada, doce de leite, de mamão, de figo, de abacaxi, de goiaba de banana e claro, aquele queijinho minas para acompanhar. 


Entre a refeição e a sobremesa há o convívio com a família. Aquele povo todo sentado ao redor da mesa grande de madeira. Aquele mundo de braços passando por cima das comidas, aquele falatório danado e normalmente os avós sentados na cabeceira apreciando toda a confusão. É nesse momento que ouvimos as célebres frases repetidas todos os anos. Aquela tia gorda que olha para o sobrinho, aperta as bochechas do coitado e delicadamente diz: “Menino como ocê cresceu?!”. Ou ainda a tia encalhada que pergunta: “Já arrumou namorada?”. Tem também as tias que já viraram avós e perguntam aos recém casados: “E aí, quando é que vão ter filhos? O Fulano já fez o dele, ceis tão ficando pra trás. Os primos tem que crescer juntos!”. Mas se você é um estudante de vestibular, menino se prepare, é um tal de: “Se vai fazer medicina estuda muito mesmo que quero fazer plástica de graça.” Ou “Escolhe direitinho o que você vai fazer senão pode acontecer como o ciclano que tá desempregado.” Ou pior ainda: “Ihhh menino, não esquenta se tomar pau não, é normal, uma hora ocê passa.”


Passado o momento gula temos o momento Amigo Oculto. Tradição nas casas para facilitar a distribuição de presentes e economizar o bolso dos pais. Aí tudo vira festa. Tem sempre um tio que já tomou um pouco mais de pinga e não consegue nem lembrar para quem vai dar o presente. Tem sempre um presente que ninguém quer. Tem sempre uma pessoa que não vai e atrapalha o processo. Tem sempre aquela marmelada (marmelada para quem não conhece o vocabulário mineiro é quando de alguma forma a regra é burlada em favor de outro.) e percebemos que algumas pessoas sempre saem com os mesmos nomes. Tem sempre aquele presente que recebemos e que não conseguimos trocar. Mas no fim todos sorrindo e satisfeitos com a bagunça.


Na minha família faltou a presença da vovó. A véia faz uma falta danada. Era ela que orquestrava toda essa confusão. Era ela que executava com maestria os melhores doces que eu já comi. Era ela que acordava rindo e dormia rindo por ter toda a família por perto. Era ela que reclamava da carne dura e comia de sobremesa um enorme quebra-queixo (esse doce é o pé de moleque feito com rapadura, difícil ter que explicar tudo prôceis.) e ria de sua travessura. Sim faltou a véia e faltou o vô, que já partiu faz mais de ano, mas a família continua lá, linda, forte e reunida para celebrar não a passagem de outro ano ou a importância do Natal, mas a união de uma família louca, linda, mineira e que tem um orgulho danado de grande de ser o que é !!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

ENGARRAFADO COM PRAZER



Quem mora no Rio, São Paulo ou qualquer grande cidade brasileira já deve ter tido o enorme prazer de ficar engarrafado. É praticamente um hobbie que nós, pessoas modernas das capitais, adquirimos e viciamos. Para você que não sabe o prazer que esse momento pode gerar em sua vida, vou descrevê-lo na intenção de dividir toda a ternura desse momento.

É sexta-feira e você resolve sair com sua esposa para visitar a sua família ou a dela localizados em outra cidade. Volta do trabalho um pouco mais cedo de metrô e, depois de colocar todas as inúmeras malas dela no carro, conforme o texto que eu mesmo publiquei aqui, você se prepara para partir rumo à estrada. Nesse instante, começa a atuar a divina coincidência. A sensação que tenho no momento em que deixo minha garagem é a de que todas as famílias da cidade resolveram fazer o mesmo que eu e na mesma hora. Dessa forma, terei o enorme prazer da companhia praticamente por toda a viagem.


Basta sair de casa que minha sensação de previsibilidade se torna real. Todos os carros estão nas ruas. Eu abro um delicioso sorriso, olho com ternura para minha esposa e com os olhos cheios de lágrimas emocionadas eu a digo: “Amor ... nada poderia ser mais prazeroso do que passar horas trancado neste carro com você, com direito a um clima sensacional e motoristas educados me propiciando toda a atenção e o carinho de que preciso para chegar tranquilo em nosso destino.”

A harmonia desse momento começa com a educação e a paciência de todos os motoristas ao meu redor. Sempre cavalheiros (ou seriam cavaleiros?), cedem espaço, dão passagem, usam adequadamente a seta do carro e só fazem uso da buzina quando extremamente necessário. As motos seguem em filas indianas, cuidadosas e em velocidades baixas, respeitando o fluxo dos carros e o silêncio que eles promovem. Há nesse meio aquele que se destaca por toda sua doçura e sua meiguice: os motoristas de ônibus. Treinados nas escolas inglesas de boas maneiras, esses gentis senhores são praticamente Ladies no trânsito. Atentos aos outros e com extrema sutileza esses profissionais e seus sorrisos melhoram o humor de qualquer pessoa que se envolva em um engarrafamento. Capazes de ouvir um espirro a quilômetros só para dizer “saúde”, não há profissional mais capacitado do que o motorista de  ônibus no Rio de Janeiro. Melhor do que encontrá-los no trânsito é ter o prazer do convívio deles durante sua viagem, por isso as passagens são tão disputadas. 

Outro bônus dos engarrafamentos é a oportunidade de apreciar as delícias da culinária brasileira. Enquanto aguardamos calmamente o deslocamento dos veículos à frente, temos o prazer de degustar deliciosos quitutes vendidos no conforto da janela de seu automóvel. Crianças e adolescentes bem vestidos e educados nos oferecem guloseimas típicas de cada região por onde passamos e para beber água mineral Perrier estupidamente gelada. 

Claro que existem problemas no engarrafamento, mas nem de longe eles chegam a incomodar. Quando um carro, por algum infortúnio, é obrigado a parar, todos os demais veículos se mobilizam para que ele possa se deslocar-se para o acostamento que se encontra sempre livre e, assim, aguardar poucos minutos até que um atencioso reboque venha socorrer-lhe.  Raríssimas são as vezes em que um acidente ocorre, normalmente provocado por um motorista um pouco descuidado devido às distrações que todo esse espetáculo promove. Quando  isso acontece, arranca risos de toda a plateia. Em pouco tempo tudo se resolve, os carros voltam para seus lugares, o motorista descuidado pede desculpas a todos os envolvidos, recebe os aplausos e volta para o interior aconchegante de seu carro.

No fim de todo esse percurso, as famílias se divertiram, os motoristas relaxaram e o tempo gasto na viagem passa tão rápido que nem percebemos; torcemos para que na volta tudo se repita. Portanto se você ainda não pegou um engarrafamento, está na hora de desfrutar esse momento.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

QUASE UM CHEF !!


Só quem cozinha sabe o risco que corre ao executar qualquer prato. E quem não cozinha é porque provavelmente já percebeu esses riscos e decidiu não enfrentá-los. Pois bem ... eu gosto de levar a vida com certa emoção e sempre que posso me arrisco um pouco na culinária. Com o tempo adquiri experiência e assim pude juntar várias situações adversas que todo chef passa.

A primeira coisa que fazemos quando desejamos elaborar qualquer prato é separar os ingredientes que vamos usar. Aí já começa o caos. Nunca temos tudo o que precisamos e é exatamente por isso que eu nunca sou capaz de executar meus pratos duas vezes. Eu sempre substituo um ingrediente por outro ... troco um pouco de tempero aqui ... uso outro vinho ... não importa ... nunca faço igual !!

Eu não sou um cara rico, portanto não tenho a praticidade de todos os aparelhos disponíveis para uma cozinha. Admito também que apesar de possuir alguns, ainda assim eu não os uso pela falta de praticidade, porém é exatamente por esse motivo que muitas vezes eu me machuco. Fala sério ... aquele tal de MULTIPROCESSFOODMAXPOWERTURBO com 10 lâminas cambiáveis, 18 velocidades e três recipientes ajustáveis nunca saiu do armário. Dá um medo danado de usar e, depois que o uso, - nunca consigo montá-lo novamente.

Quem inventou o ralador de alimentos não se deu conta da anatomia dele. Tenho inúmeros e todos me parecem ter algum tipo de atração pelas pontas dos meus dedos e uma repulsão por qualquer tipo de alimento. Nesse fato, eu ressalto que também descobri que sangue pode temperar inúmeros alimentos, inclusive saladas. Destaco ainda que nenhum deles facilita a vida de um canhoto. Se você é destro, agradeça o presente que Deus lhe deu. A vida de um canhoto na cozinha é um caos ... abrir uma simples lata de milho é um trabalho hercúleo para quem não tem um pouco de ambidestria. Destaco ainda que fechar um pote ou uma garrafa pode ser extremamente complicado para quem vê tudo ao contrário.

Outro ponto importante no processo de criação gastronômica é a escolha dos recipientes. Com o passar do tempo, concluí que minha cozinha recebe fortes influências mágicas. Sempre que busco uma panela, visualizo um determinado tamanho e calculo mentalmente o volume de comida que irei fazer para caber naquela vasilha. Eu sempre erro!! SEMPRE !!!! Outra grande forma de avaliar essa influência mágica é o sumiço das tampas das panelas; basta precisar de uma para que ela automaticamente entre em modo oculto e posso procurá-la por toda minha área de visão, pois ela só retornará ao modo disponível quando a esposa é consultada. Enquanto procuro insanamente a porcaria da tampa, a comida no fogão é esquecida ... e, obviamente, queimo um ou dois pratos. Claro que nesse caso a lei do famoso profeta Murphy impera e o prato que queimará será justamente aquele que não tenho os ingredientes para substituí-lo.

Seguindo a linha dos riscos na cozinha, focarei agora nas nossas habilidades mentais. Sempre me impressiono com a distração que meu cérebro adquire assim que entro na cozinha. Quando estamos cozinhando, é normal provar aquilo que fazemos para saber se a quantidade de tempero está boa ou se falta algo. Nesse momento, a fim de não contaminar a comida, colocamos um pouco do alimento na mão e levamos à boca. Perdi a conta de quantas vezes, ao colocar um molho na mão e percebê-lo quente demais, automaticamente levei-o à boca e suguei o caldo, queimando, assim, os lábios e a língua. No resumo, - sempre acabo com as mãos e a boca queimada. Nessa mesma falta de raciocínio lógico, cansei de queimar a mão em reflexos destituídos de qualquer senso de esperteza. Basta uma panela ou vasilha escorregar, um tabuleiro ameaçar cair, um refratário deslizar que meu cérebro acusa perigo e logo leva a mão para aparar o descuido. O que meu cérebro infelizmente não apura é que normalmente todos esses utensílios acabaram de sair do fogo.

Analisando um pouco meu passado, percebo que mesmo com certos traumas - jamais desisti de cozinhar. Certa vez, ao chegar à casa da minha avó paterna e observar um enorme tacho de cobre cheio de doce de leite, não resisti à tentação e enfiei o dedo na panela para provar um pouco. O doce acabara de ser feito e, logo, o dedo entrou em brasa, novamente o meu cérebro com toda sua inteligência levou a mão à boca que, insanamente, puxou o doce. Dedo e lábios queimados e lágrimas escorrendo pelo rosto. Nesse ponto eu já deveria ter desistido da culinária, mas até hoje mantenho o empenho. Os pratos ficam prontos, a comida não é tão ruim ... e a minha esposa teima em dizer que ama tudo o que faço para ela. Então, por que eu pararia de cozinhar ?

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

ORAÇÃO DO PEREGRINO


Se você me ama, não chore.
Se você conhecesse o mistério insondável
do céu onde me encontro...
Se você pudesse ver e sentir o que eu sinto e vejo
nesses horizontes sem fim
e nesta luz que tudo alcança e penetra,
você jamais choraria por mim.
Estou agora absorvido pelo encanto de Deus,
pelas suas expressões de infinita beleza.
Em confronto com esta nova vida
as coisas do tempo passado,
são pequenas e insignificantes.
Conservo ainda todo o meu afeto por você
e uma ternura que jamais

lhe pude em verdade revelar.
Amamo-nos ternamente em vida,
mas tudo era então muito fugaz e limitado.
Vivo na serena expectativa de sua chegada,
um dia... entre nós.
Pense em mim assim: nas suas lutas pense
nesta maravilhosa morada
onde não existe a morte
e onde, juntos, viveremos no enlevo mais puro
e mais intenso,
junto à fonte inesgotável de alegria e do amor.
Se você verdadeiramente me ama,
não chore mais por mim.


“EU ESTOU EM PAZ”.




terça-feira, 4 de setembro de 2012

UMA IMENSA SAUDADE




Hoje não há palavras fluindo com facilidade para o fundo branco do tela ...


Na cabeça uma imensa saudade de tantos bons momentos compartilhados ...


Uma saudade dos deliciosos odores vindos da alquimia na cozinha ... dos risos das histórias contadas ... da fartura das festas de família ... das petecas feitas de jornal ... dos pulovers de lã ... dos imensuráveis cafés da manhã em Três Marias e dos deliciosos pezinhos para fora do cobertor na hora de dormir.


No coração algumas lágrimas ... não de lamento, mas de pesar por saber que ela não estará mais na cozinha, fazendo algum doce gostoso e me esperando para lanchar !!


O casal que me ensinou o que é o amor e a paciência ... hoje está junto novamente.

Espero que ambos continuem nos abençoando!!


Sua benção minha vó ...


E como disse o bom padre ... até breve !!


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

COISAS QUE HOMENS NÃO ENTENDEM

          

Se você é homem e gosta de mulheres, em algum momento já passou pelas mesmas situações que irei descrever e se perguntou exaustivamente o motivo de tudo aquilo. A resposta meu amigo, não existe em nosso cérebro... a evolução apagou para nos poupar o sofrimento.


A primeira situação conturbada na vidas a dois é o dia em que decidimos viajar com a companheira. Nós, na nossa humilde existência, planejamos um tranquilo e gostoso final de semana no campo. Preparamos uma simples mochila com tudo o que precisamos e ainda com espaço para levar algum lanchinho. Surge, então, a mulher com uma mala JUMBO e reclamando que não há espaço para tudo o que ela quer levar, como aquela sandália de salto alto que combina com o vestido preto tubinho. É nesse momento que o homem surta. Vou tentar explicar o que acontece nesse momento: o processo de evolução feminina é diferente do homem. Nós evoluímos caçando em longas distâncias e aprendemos a viajar levando somente o necessário. Já as mulheres, evoluíram num processo nômade. Esse processo disparou na mente feminina um alerta inconsciente, dizendo que toda vez que elas viajam devem levar tudo o que possuem, pois jamais retornarão ao local de origem. Dessa forma, podemos perceber que quando uma mulher viaja, ela leva uma mala de mudança. Não devemos reclamar das malas... nosso dever é ajudar nesse processo e facilitar sua organização, mostrando que determinadas peças não são adequadas para o local da viagem e podem ser deixadas para trás. Se nós somos mais capazes de organizar nossa mala, devemos também ajudar a mulher nessa tarefa. Se você não faz a sua ... não reclame do peso da dela !!


          
              A segunda situação que enlouquece os homens são as compras. Nós homens compramos o que precisamos... mesmo tendo que pagar um pouco acima do que achamos justo. A mulher não funciona assim, ela compra tudo aquilo que acredita estar em um preço abaixo do mercado, mesmo não precisando. Essa forma de conduzir os bens de consumo também é explicada pela evolução. Ainda no processo de caça, nós aprendemos a caçar o que conseguimos e precisamos. Temos objetivo, foco em determinada presa. Quando finalmente a abatíamos, deixávamos as tripas e os ossos para trás, levando apenas o que era necessário. As mulheres eram colhedoras. Aprenderam observar o que estava disponível no ambiente e aproveitar aquilo que lhe era oferecido. Ela tinha que usar qualquer alimento ou utensílio, mesmo que não estivesse precisando, visto que aquela oportunidade poderia não surgir novamente. A mulher aprendeu também a estocar, pois sabia que em determinados estações o que ela estocou no período anterior poderia ser muito útil. Nesse processo, temos que ajustar o foco das nossas mulheres, lembrando-as das reais necessidades e do que precisamos ou não... sem estresse... sem bronca. Sem isso, não podemos reclamar quando nossa esposa sai para comprar uma camisa de trabalho e volta com duas sapatilhas e sem qualquer camisa. Ela simplesmente aproveitou as oportunidades que o mercado ofereceu.

           
             Por último, relato o fato que provavelmente mais enlouquece os homens... o longo período de espera que precede qualquer saída, enquanto ela se arruma e se embeleza. Claro que nós sabemos que toda essa arrumação é para encher nossos olhos de orgulho, mas, mesmo assim, nos incomodamos com o insistente atraso. Essa justificativa é talvez a mais óbvia em toda a evolução humana. Em praticamente todos os mamíferos, são as fêmeas que escolhem os machos. Os machos alfas simplesmente disputam pelo reinado de determinado número de parceiras sexualmente ativas que podem ter. Por que lutamos entre nós? Lutamos para mostrar às fêmeas que somos mais fortes e, portanto, a melhor escolha para a cópula, gerando, assim, filhotes com maior qualidade genética. Todas as fêmeas aprenderam a manter o macho com a sensação de desejo. Elas consideram qualquer homem um macho em potencial. Enquanto oferecermos segurança, tranquilidade e atenção, elas estarão conosco, mas isso não as impedem de estarem lindas para que outros as apreciem. Assim, seu tempo de preparação é evolutivamente justificado. Não devemos reclamar dessa demora... devemos nos encher de orgulho por percebermos a linda mulher que está ao nosso lado. Se perceber algum olhar masculino mais atento na sua mulher, nada de ciúmes bobos... apenas a segure forte e mostre para o cara com quem ela está. Um beijo na boca bem dado pode ser muito mais eficiente do que qualquer demonstração de agressividade!! Seja confiante e perceberá sua mulher se derreter em seus braços.


            No resumo da história, todos nós somos cercados por instintos que nos antecedem. Ciente de tudo isso, ainda assim me descontrolo algumas vezes com minha mulher... mas aqui aproveito para pedir desculpas e dizer que vou tentar ser mais comedido nas reclamações.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MUITO TRABALHO



Amigos,

Peço desculpas pela demora na atualização do site ... porém estou trabalho demais e não estou tendo tempo para escrever. Já tenho material para mais dois textos ... assim que me sobrar um tempinho me dedicarei a eles !!


Abraços

segunda-feira, 23 de julho de 2012

PEÇA INFANTIL – A CILADA 2



           

Esse final de semana eu tive outra experiência única em minha vida. Minha esposa tem uma amiga que é atriz de um teatro infantil e fomos convidados a assistir a peça. Assim que fui informado do teatro, neguei categoricamente a minha presença, dizendo que não havia motivos para comparecer e que minha esposa poderia ir só. Então com uma voz doce e agradável ela me chantageou dizendo que ela precisava da minha companhia. Sem saber sobre o que era a peça, afirmei que peça infantil eu só iria quando tivesse filhos. Sabiamente ela olhou em meus olhos e afirmou que a peça era infanto juvenil e que eu iria gostar. Depois de muito apelar para o bom senso ... e sofrer inúmeras chantagens, eu cedi e fui.

Na entrada o primeiro susto. O nome da peça era “Fantasia – Em busca da Cidade encantada”. Eu nunca tinha visto um nome tão florzinha e infantil. Na mesma hora olhei para cara dela e a fuzilei: “Peça infanto juvenil onde Sr Esposa?”. Ela nem teve a audácia de responder. Quando entramos no recinto, enquanto o teatro não abria, esperamos num jardim. No jardim crianças esperavam com seus pais o começo da tão esperada obra da encenação.


A porta do teatro se abre e as crianças partem como pombos em cima do milho. Os pais desesperados tentam acompanhar o ritmo dos melequentos. Lugares escolhidos e eu resolvi sentar mais atrás, afinal eu já estava deslocado o suficiente nessa situação. Minha esposa percebendo minha ira, não dizia uma palavra. Eu só conseguia pensar no que me esperava. 



           

Todos sentados ... a luz se apaga ... e quando se acende novamente surge um ser que só pode ter sido enviado dos confins do mundo. Claro que no teatro tudo é possível, mas tem que haver bom senso. A criatura que ali se apresentava orgulhosa, era uma sexagenária (no mínimo) com roupinha de coelhinho. O detalhe da roupa era um corpete, que deve ter sido desenhado para ela mesmo ... só que há pelo menos uns 40 anos atrás. Perceber os seios caídos apertados pela roupa foi broxante. Para piorar ela agia como uma menininha ... só que com a desenvoltura de um paquiderme. Trágico!!


Passado o primeiro choque e apresentado o protagonista, surge uma gata. OUTRO SUSTO! A gata de nome Felícia, que se intitulava maravilhosa e sensual tinha a mesma sutileza que um hipopótamo numa loja de cristal. Novamente pura falta de bom senso. Já que é para fazer uma gata ... e a atriz está um tanto fora de forma, põe logo uma roupa que tampe tudo, assim evita que tenhamos que presenciar a sórdida cena dessa coisinha roliça rodopiando e levantando a sua saia rodada enquanto dançava sua música de entrada. O susto foi tão grande que quando ela resolveu brincar com a plateia e conversar com as crianças ... estavam todas com o mais puro pavor no olhar. Se eu que sou mais velho tive que me conter para não entrar em pânico, subir no palco e dar uns tapas nessa gata gorda, imagine a mente dessas pobres crianças ?? Terão pesadelos por muitos anos.

            
 A gata foi embora e eu comecei a agradecer a Deus. Então surgiu a amiga da minha esposa. Durante os primeiros 10 minutos de sua entrada ela só fez dançar. Ninguém sabia quem ela era ... ou o que ela fazia. Entrou com uma música estilo Roberto Leal (aquele português louco que dança o Fado) !! Esvoaçante e com suas saias rodadas enormes ela fazia uma coreografia estranha. Até aí tudo bem ... eu poderia suportar esse golpe, afinal o que aconteceu antes foi bem pior. Ela então se apresentou, era a Morgana (a rainha má da história)... e outra agradável surpresa, sua voz era ótima para o teatro. Um alívio! Porém até o momento nenhuma criança tinha rido ou se animado com a peça.

           

O enredo da história é tão sem pé nem cabeça, que o protagonista ao perder sua inteligência para a malvada Morgana, é socorrido por uma professora que aparece literalmente DO NADA !! Mas para nossa deliciosa surpresa ... a professora paga todo o espetáculo. Tudo bem que a maioria das piadas feitas pelo ator (cujo personagem é a professora) são para um público adulto, então nenhuma criança entende. Mas com certeza ele é um talento no grupo. Tem interpretação fácil e única. Com o tempo certo e com destreza, brinca com a plateia e usa do seu personagem para criticar a situação do ensino no Brasil. Quando ele se permite brincar com as crianças é que a peça ganha vida. Os pequenos que até o momento só observavam a encenação passam a participar do processo e tudo vira diversão. Ponto para a ator !!


A história segue e para me fazer agonizar surge uma fada. Véi ... NA BOA !! Se o lance já era complicado tendo uma gata com as curvas do Garfield, imagine essa mesma atriz num vestidinho de fadinha ?? ISSO MESMO ... FADINHAAAAA !!TENSO NÉ ?? Pois é ... e ela surge toda glamourosa com direito a varinha mágica e tudo mais. Meu coração quase teve um colapso ao ver o quão exprimido estava toda sua forma corporal dentro daquele ínfimo pedaço de pano. Nesse momento as crianças se apavoraram ... e com razão ... eu também ficaria com medo caso estivesse sentado na primeira fila e correndo risco de ser atingido pela explosão da cinta que espremia tudo.

            

Passado o pânico a peça começa a seguir para um desfecho feliz. A Morgana é conduzida para se tornar uma fada do bem ... a fada ALEGRIA. As luzes se apagam ... uma música rola ... umas palavras de feitiço são pronunciadas pela fadinha descrita acima ... e surge a nova fada. Lembram-se da coelhinha ?? ELA MESMO !! Ela entra como a fada Alegria ... uma sexagenária ... num vestidinho de fada !! O lance é tão inexplicável que a professora da história exclama lá do palco: “PARA NOOOOOOOOOOOSSA ALEGRIA surge a fada!!”. Eu fiquei imaginando o que irá acontecer com as pobres crianças que ali estavam. Elas nunca mais terão outra boa ideia de como podem ser as fadas. Toda a sensualidade da Sininho ... ou ainda das belas fadas do Walt Disney serão substituídas pelas tórridas cenas dessas duas fadinhas do teatro que assistiram. Eu que sempre tive uma quedinha pela Liv Tyler desde o dia que ela fez a elfa no Senhor dos anéis, agora só consigo ter pesadelos com fadinhas gordas e velhas que tentam me levar para a cidade encantada ... com uma gata gorda e uma coelhinha anciã !!! 


Mas tudo acabou ... as crianças se salvaram ... não sem sequelas eternas e eu pude correr para o aconchego do meu lar em busca de algo melhor. Liguei a TV e me deparei com ZORRA TOTAL !! Melhor ir dormir !!!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A ARTE DE DIVIDIR A CAMA




Durante todo nosso crescimento jamais somos treinados para o momento único em nossas vidas. O dia em que tomamos a decisão de dividir nossa cama para o resto da vida com a mesma pessoa. Podemos estar casados ou não ... o que importa é a escolha de dormir ao lado dessa pessoa que amamos. Então o local onde amor é acolhido, torna-se um campo de batalha.

Quem tem o prazer de conhecer a minha esposa jamais poderá imaginar as atrocidades que ela comete quando está dormindo. Aquele corpo lindo, delicado e esbelto já fez loucuras na cama. Se você, leitor, está pensando em pornografia ... lamento, não tratarei desse assunto íntimo no meu blog. Estou falando da única disputa que importa na cama ... o travesseiro e o cobertor.

           

Nossa batalha começa como qualquer outra. Primeiro os inimigos se dão as mãos numa tentativa de aliviar as pressões e assim conseguir tempo para preparar as armas da batalha. Toda noite eu me deito na posição que ela melhor se aconchega. Eu fico de barriga para cima e com as mãos no peito. Ela se deita ao meu lado, passa uma perna por cima das minhas, uma mão segura meu braço e a outra passa por cima do meu peito, indo se aconchegar perto de meu rosto. Não é a posição mais confortável para mim ... mas isso não é importante. Enquanto ela adormece eu fico admirando a bela cena da minha mulher envolvendo todo o meu corpo. Uma delícia !! Até o momento em que ela realmente caí no sono.

Minha esposa desenvolveu a técnica de ocupação do território inimigo. O seu travesseiro ela abraça e sua cabeça repousa no meu, me colocando assim na extremidade do mesmo. Para essa mesma técnica ela desenvolveu a capacidade de dormir na diagonal da cama, me mantendo assim no espaço que chamo buraco negro. Apelidei a dobra do colchão com esse nome por um simples fato: quando nos encontramos nele e adormecidos percebemos que não há mais espaço no colchão, automaticamente nosso corpo percebe a atração que esse espaço tem e nos puxa, visando levar-nos para o chão frio e escuro. Claro que com o tempo eu também desenvolvi a técnica de fuga do buraco negro. Uso o meu cutucão noturno e peço gentilmente para que a mesma me libere ao menos mais meio centímetro para que eu consiga respirar sem cair. O inimigo recua abrindo espaço no campo de batalha.



           

Em dias de frio a arma elaborada pela minha mulher é conhecida como casulo. No começo dividíamos a mesma coberta. Que por sinal era KING. Ainda assim ela conseguia me deixar totalmente fora do tecido. Chamo essa arma de casulo pelo formato que ela adquire durante a noite. Enquanto ela se enrola na coberta me resta disputar pelas pontas e usar minha força para desenrola-la. Depois de várias disputas cruéis pelo aconchego do cobertor e ciente das minhas derrotas eu admiti ser fraco nessa batalha e passei a dormir com outra coberta. Na minha noite de estreia com meu próprio cobertor, acordei na madrugada sentindo o frio no corpo. Sonolento, procurei com as mãos minha manta, passando-as pelas laterais da cama. Quando não encontrei, no escuro, me sentei aos pés da cama e fui verificar se a mesma tinha caído no chão. Olhei em volta e nada. Não me restou outra opção senão observar minha esposa. E lá estava minha coberta, formando o maior casulo já visto, um casulo que mantinha minha esposa uns 30 centímetros acima do colchão. Rindo com minha desgraça, acordei-a do seu belo sono e implorei pelo meu cobertor. Desde então só durmo enrolado e instalei um sistema antifurto, que ao menor puxão liga luzes pelo quarto e aciona uma sirene.


Minha esposa desenvolveu armas psicológicas nesse processo. Sua disputa pelo território liberou seu lado mais cruel e hoje ela usa de mecanismos de tortura para me confinar ao menor espaço possível. Certa noite ela acordou e num chamado sensual me disse que iria tirar a calcinha. Se você e casado e sua esposa acorda as 3 horas da madrugada e lhe avisa que irá tirar a calcinha, nosso corpo já se prepara para o amor. Eu já estava todo pimpão !! Então ela se sentou na cama e naquela pose que só as mulheres sabem, retirou sua calcinha, descendo a mesma pelas pernas de uma maneira que jamais irei esquecer. Jogou o tecido no canto do quarto e se deitou. Pronto ... eu virei de barriga para cima e esperei o ataque. Logo em seguida a minha deliciosa esposa voltou-se para o travesseiro como se nada tivesse ocorrido. Fiquei ali feito um bobo, achando que ela ainda iria me chamar ... ou me agarrar. Quando alguns poucos segundos haviam se passado e ela não demonstrou reação fui verificar o seu estado, constato portanto, que ela dorme no melhor sono. Excitado e confuso demorei um bom tempo para voltar a dormir e fiquei encolhido no meu cantinho.

           

Minha única arma natural nesse processo é o meu ronco. Uso esse mecanismo numa tentativa única de colocá-la distante de mim. Mas meu amor se adapta com rapidez e o que antes era um barulho irritante se tornou música para os ouvidos dela. Sinto que nessa disputa eu estou ficando cada vez mais fraco.

Admito porém que o mais complicado de todo esse processo é conseguir dormir quando estou longe dela. Fico sempre com a sensação de que falta algo ... talvez seja a emoção da luta noturna ... talvez seja só a saudade dos seus pezinhos gelados em minhas costas durante a noite !! Jamais saberei !!!

terça-feira, 10 de julho de 2012

O CALOR DO METRÔ


Morando no Rio de Janeiro, diariamente vou e volto para o trabalho no delicioso transporte público de massa ... o METRÔ!! Minha escolha por esse transporte é diretamente relacionada com o prazer que ele me proporciona. Claro que para quem mora nessa linda cidade esse transporte é conhecido, assim como o prazer que se instala em cada viagem feita nos horários de pico. Porém, como sou mineiro e tenho inúmeros amigos e familiares que jamais tiveram essa oportunidade única em suas vidas, resolvi descrever esses momentos mágicos que tenho de puro frisson e dividi-los com vocês.

A situação é bem simples. Final do expediente e cansado com a jornada de trabalho, dirijo-me para a estação de Metrô. Passo o cartão de embarque na roleta e desço para o terminal. É nesse momento que tudo vira romance. A primeira coisa que tenho que fazer é escolher em qual das entradas irei ficar. No piso do terminal há adesivos marcando o local de parada das portas do vagão, indicando, assim, onde devemos esperar para poder adentrar no trem. Ressalto, portanto, que em todos os locais há um aglomerado de pessoas que aguardam atentamente a chegada do próximo trem. Escolho qual massa irei participar e me infiltro.




Alguns minutos depois, o metrô se aproxima. Estamos todos ali, aguardando no local esperado, local este marcado pelos adesivos no piso, e enquanto o vagão não para, a massa se aglomera e se consolida. Nesse instante, meus pés são retirados do chão. É o delicioso momento em que descanso os meus pés do intenso dia de trabalho. Enquanto os vagões vão passando, percebemos como estão lotados e como será inviável a entrada de qualquer outro ser vivo lá dentro... mesmo que seja um vírus. Há então o momento cômico. O condutor, que deve ser um indivíduo dotado de extremo humor, para o trem alguns metros fora da faixa marcada no piso. Então, toda aquela ultidão que aguarda de forma paciente a abertura das portas no local indicado percebe que o trem não parou no local correto e, num ato de movimento rítmico, se desloca inteira. Eu continuo no ar e minha única preocupação nesse momento é agradecer à mãe desse ser divino que tão habilmente melhora o final do meu dia.

As portas se abrem. Visivelmente não há lugar para as pessoas, porém o espírito de grupo, companheirismo e educação tomam o lugar e todos se apertam para que aqueles que estão do lado de fora possam entrar sem sacrifício e com todo aconchego de um show de rock. Eu poderia esperar um pouco mais para ir num próximo trem, talvez mais vazio, nunca se sabe. Mas quero lembrá-los de que meus pés não estavam no chão ... a massa decide por mim e de forma compacta coloca todas as suas células dentro do vagão, nem que para isso alguém tenha que ficar com a cara colada na porta.

                   


Lá dentro, sendo encoxado por um rústico pedreiro e com a cara enfiada no sovaco de outro, a primeira percepção do meu cérebro é o agradável odor. Imaginem, queridos leitores: final do expediente, Rio de Janeiro, calor, um dia de trabalho braçal... o perfume no ar é revigorante!! Como minha estatura é um tanto beneficiada, meu nariz me dá o imensurável prazer de ficar na exata altura das glândulas odoríferas desses perfumados cidadãos. Minha única tristeza é que estou tão compactado com a massa que meus pulmões não conseguem aproveitar ao máximo sua capacidade respiratória para inflar com toda força e, assim, se deliciarem com esse aroma, algo muito parecido com bouquet campestre. 

Mas, como se não bastasse o prazer que tenho pelo perfume, Deus criou os seres e deu a eles o extremo bom gosto musical. O carioca da periferia é um indivíduo abençoado com ouvidos divinos. O dom acústico é tamanho que essas pessoas amáveis nos dão o enorme prazer de compartilhar as obras-primas da composição musical brasileira ... o FUNK !! Essa deliciosa música acalma a multidão e coloca todos em estado de transe. Ficamos ali, absorvidos por toda beleza dos refrões e das harmoniosas batidas. Meu cérebro, nesse momento, é tomado por um prazer inenarrável.
           
           

Embriagado com todo esse odor e som, permaneço imóvel por três estações. Minha imobilidade é voluntária, já que a massa sempre me permite movimentar os dedos da mão e dos pés. Na terceira estação, eu já começo a me entristecer, pois todo esse carinho irá me abandonar. Nessa momento, a massa desce para trocar de transporte e eu, infelizmente, irei continuar a viagem. Quando o metrô começa a desacelerar, a multidão inicia o processo de movimentação rítmica e num movimento compassado, todos se voltam para a porta pela qual irão passar. Como meus pés ainda não estão no chão e como sou tímido, eu não conto aos demais companheiros que não pretendo descer. Portanto, sou carregado pelos queridos amigos para fora do vagão. Claro que lá fora eu consigo retornar ao embarque, mas isso só ocorre alguns metros depois, quando, finalmente, eu toco o solo. Esse é o único momento que tenho que agir por conta própria e com eficiência, pois só me restam alguns segundos para voltar ao vagão antes que a porta se feche e eu tenha que esperar pelo próximo. Esse é o momento em que minha altura é mais uma vez beneficiada, afinal consigo me infiltrar na multidão no sentido contrário e, assim, arrumo espaço para estar novamente no vagão.

No interior uma sensação de vazio ocupa meu peito. Todos aqueles que estavam ali e que com todo amor e educação me cercavam, me abandonaram. Terei de esperar mais cinco estações até chegar casa e, nesse percurso, sempre agradeço a Deus pela existência do transporte de massa, pela boa educação do povo brasileiro, pelo calor gostoso da cidade do Rio e mais ainda, por me dar a oportunidade de vivenciar essa experiência todos os dias da semana.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Aniversário de 1 ano - A CILADA

Tá confirmado. Aniversário de um ano é uma loucura. E nem me venha com essa de que a criança vai lembrar desse momento, ou que as fotos mostrarão o quanto ela é amada. Na verdade são só os pais e a família mostrando ao mundo como podem fazer um festa linda. 

Eu tenho um afilhado que fez nesse último fim de semana a comemorada data de 1 ano. E assim como toda a família eu participei do processo de produção e montagem de todo esse evento. Claro que se eu soubesse teria fugido para as montanhas, mas minha esposa provavelmente teria me encontrado nos confins do mundo, teria me dado uma boa bronca e, ainda sim, eu participaria de todo o processo. Assim sendo, por livre e espontânea pressão ... eu fui !!


Para começar eu tive que deixar o Rio de Janeiro em direção ao interior de Minas. Eu amo os recantos desse estado acolhedor no qual nasci, mas admito que percorrer 530 km é um tanto cansativo. Pior ainda quando sabemos que iremos percorrer esse mesmo percurso para voltar em menos de 48 horas. 


Cheguei na casa de meus sogros as 20:00 de sexta e o caos já estava instalado. Eram panelas enormes com canjiquinhas e feijão amigo por todas as partes. Enfeites de mesa com tinta, gliter e cola em todas as mesas ... e para finalizar não havia uma só cama desocupada. Isso sem falar no entra e sai de pessoas que estavam participando do evento. Tias, tios, vizinhos, amigos, primos e algumas outras pessoas que eu não faço a menor ideia do porque estavam envolvidas. TODAS FALANDO AO MESMO TEMPO!!


Quando cheguei minha fome era cruel ... e fui logo experimentando a canjiquinha e os doces infantis. Fome saciada, eu já estava preparado para ajudar. Então me avisaram que no momento não havia muito o que fazer. Eu deveria tomar um banho e descansar, pois minha ajuda seria solicitada no dia seguinte. Preocupado com essa informação eu tomei meu banho e fui logo arrumando um cantinho para dormir. Era uma cilada!



Eu lembro de ter me deitado perto das 23:00 ... mas meu cérebro custou a processar que minha sogra já estava lavando louça e limpando a cozinha as 6:00 do dia seguinte. Quando me dei conta eram 6:30 e a casa toda estava de pé e numa atividade frenética. Só eu parecia um zumbi zanzando pela cozinha, procurando algo para tomar de café da manhã (acho que só um energético resolveria). Mas nem deu tempo de comer algo, fui logo convocado a ajudar o meu cunhado (pai da criança) no processo de transporte de todas as coisas para o local da festa.

Quando cheguei no local eu percebi o tamanho do problema. Seriam 150 convidados e não tinha nada no lugar nem limpo. Eram pilhas de cadeiras e mesas sujas dentro da minúscula cozinha do lugar, que deveria em breve ser ocupada pela minha sogra e companhia. Só um amigo e eu para tirá-las lá de dentro. Minhas costas ainda vão lembrar por muito tempo dessas cadeiras de plástico e no peso que possuem.

Assim que desocupamos a cozinha e colocamos tudo o que precisava para dentro, minha sogra chegou com um sacola de cebolinha. Vou ressaltar a cena, para que entendam melhor o drama. Era um bolsa reciclável lotada de molhos de cebolinha. Na minha conta eu lavei 12 molhos e outro amigo mais umas 8, porém ainda restaram no mínimo uns 5 molhos. Se você está se perguntando para quê tanta cebolinha, bem vindo ao meu clube. Deve fazer parte da insanidade e do exagero de uma festa como essa. O que importa é que fui voto vencido e além de lavá-las eu tive que cortá-las em pequenos pedaços circulares para que pudessem ser servidas em potinhos na mesa. Meu último sonho tinham cebolinhas tentando me devorar!!







Quando eu pensei que nenhum exagero poderia ser maior do que as cebolinhas, vieram os alhos. Tem 4 dias que nenhum mosquito se aproxima de mim. Minhas mãos são, até o momento, o melhor repelente que já tive, embora minha esposa não esteja achando tanta graça. Foram quilos de alho descascados e amassados, todos para temperar os 2 caldeirões (desses das bruxas más dos desenhos infantis) de canjiquinha, os 2 de feijão amigo (caldinho de feijão) e o patê de ricota com alho. Trabalhamos nesse processo como num fábrica com produção em série. Duas pessoas descascavam e outras duas ralavam o alho. Eu revessei meus turnos, ficando assim um pouco em cada função. Porém na função de ralador eu admito que uma boa parte dos dedos fora ralada junto. Nada de impressões digitais pelo próximo mês.

Até então só trabalho escravo e sem alimentação. Sugeriu-se um churrasco que poderia ser feito na churrasqueira do local e seria servido no almoço. Juntamos a grana com a galera, compramos tudo, fizemos e comemos ... mas nem por isso paramos de trabalhar. Enquanto eu engolia um ou outro pedaço de carne, fui encarregado de fazer o patê, especialidade da minha família. Agora calculem a quantidade de ricota e maionese para servir 150 pessoas? Pois é leitor, sua conta jamais irá se aproximar da realidade que encontrei. Eu fiz a mistura no que chamaram de bacia, mas para meu diminuto tamanho serviria muito bem como banheira. Meu grande problema com essas dimensões foi misturar todos os ingredientes. Só após conseguir uma colher tamanho “pá de pedreiro” é que consegui bons resultados.

Eu já estava assustado com toda essa comida, quando chegou um carro e descarregou inúmeras embalagens de salsichas. Eu comecei a achar nesse momento que a festa duraria dias. Só assim poderiam consumir toda aquela comida. Questionei minha esposa a necessidade de tudo aquilo e a resposta foi: “São 150 pessoas amor, apenas 2 salsichas e meia para cada um!”. Pô, duas salsichas para cada pessoa é pouco, concordo, mas e a pipoca, o caldinho, a canjiquinha, os doces, o patê e aquela quantidade enorme de cebolinha? Só se essas 150 pessoas estivessem passando fome há pelo menos umas 2 décadas. Novamente não me deram ouvido e ainda afirmaram, melhor sobrar do que faltar. E eu pensando que aquilo tudo serviria para matar a fome de muitos africanos.




Passei a tarde auxiliando no transporte de doces e arrumando mesas. Quando o relógio marcou 16:00 minha esposa me chamou para ir para casa tomar banho e nos prepararmos para festa que estava marcada para as 17:00. Fomos para casa, tomei meu banho, usei todo o tipo de sabonete para tentar limpar o cheiro de alho das mãos, me arrumei e esperei ela se arrumar durante 45 minutos (um recorde considerando o tempo habitual). Chegamos e a festa estava linda e decorada. Todos sorriam e comiam e bebiam, exceto o aniversariante que só queria saber do pula-pula e da TV que passava incessantemente o DVD do Patatí e do Patatá. Nosso afilhado mal cantou os parabéns e apagou no colo da mãe. Junto com ele eu dormia sentado na cadeira. A festa acabou em 3 horas e eu me dei conta que estava novamente transportando tudo para a casa do meu sogro. Dormi exausto e meu corpo todo pedia repouso. No dia seguinte minha sogra acordou no mesmo horário do dia anterior, assim como toda a casa junto com ela. Nesse momento eu levantei, corri para o carro, e numa tentativa desesperada de ir embora fui lavá-lo, para voltar para casa o quanto antes e poder dormir em paz.

O único comentário da festa que está fixado na minha memória foi a ideia de fazer outra melhor no ano que vem. Eu estou pretendendo viajar para o UBEQUISTÃO nessa época do ano, não sei por quê ?!

terça-feira, 26 de junho de 2012

SUPER EGOS

           

Hoje estou bem irritado. Fala sério !! Qual o problema de certas pessoas no quesito educação? Será que é tão complicado perceber que a minha educação é inerente ao outro. Ou seja ... eu sou assim com todos. Não faço distinção entre o meu chefe e a copeira que limpa minha mesa todos os dias no trabalho. Na verdade até faço ... eu sou muito mais simpático com ela. É fascinante vê-la sorrindo todo dia pela manhã. Nunca cansada ... nunca de mal humor ... e sempre atenta ao trabalho.

Então vou explicar de forma bem clara. Se eu estou sendo simpático, se estou mostrando interesse no que faz, ou se gosto da sua atitude e de sua aparência ... não fique com o ego muito inflado. Eu sou assim com as pessoas que me cativam. Aprendi com o Saint Exupéri. Não sei agir diferente. Se de alguma forma você me cativou. Seja pela honestidade, pela inteligência, pela forte sinceridade ou simplesmente pelo belo sorriso, eu vou me preocupar contigo. Vou querer saber mais a seu respeito e irei de alguma forma mostrar essa minha afeição. Seja por um papo no corredor do trabalho, seja num email, num papo on line, nos comentários do blog ... sei lá !!


Acredito que existe certa harmonia no mundo. Uma harmonia que prediz alguns determinados encontros. Não gosto de remar contra meu destino e faço dessa força divina uma alavanca para minha vida. Gosto de dar oportunidade para que o destino atue em minha história, porém para o meu proveito. Se conheço alguém em algum lugar, gosto de tratá-la bem e de manter, até certo ponto, contato, pois pode ser que um dia eu precise dessa pessoa ou ela de mim.


Me irritam enormemente pessoas que não conseguem diferenciar um simples interesse de uma obsessão. Algumas mulheres tem esse dom pela psicopatia. Deve ser por isso que estão sozinhas ou muito mal acompanhadas. O ego dessas mulheres é tão inflado que basta demonstrar certo interesse que elas já acionam o botão repelir e adotam uma postura de Deusa, linda, imaculada, pura e no ápice de um monte que nós, pobres homens mortais, jamais iremos alcançar.


Para essas mulheres eu tenho uma simples frase: SE ENXERGA!! Você não é a última cerveja da festa!


Sejamos sinceros. Algumas mulheres conseguem compreender a diferença entre interesse e desejo. E na verdade a grande maioria consegue. Tenho inúmeros exemplos no meu trabalho. Cultivo amizades antigas com o sexo feminino e nunca ocorreu nada entre nós. O contrário também já ocorreu, amigas de faculdade onde nosso interesse se tornou tão forte que acabou rolando algo. E uma até em que passamos por todas as fases, da curiosidade, para a amizade, para a cama e novamente para a amizade que se mantém até hoje. Mas tudo no seu tempo, com calma. Hoje estou casado com uma mulher incrível ... e que além de ser linda é uma ótima amiga !!


Por último deixo o recado para algumas mulheres que definitivamente me tiram do sério. Nós homens podemos sim ter interesse por vocês sem qualquer conotação sexual e antes de tirarem onda com a cara de qualquer um, certifiquem-se que são a última batata do pacote.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

ABRAÇO DE PUTA

Hoje a revolta que irei expor no texto é mais densa ... mais pesada e muito mais amarga. É a revolta que tenho pelos nossos hábitos medíocres e insensatos. Um cotidiano de mesmices que assumimos como verdades e que não percebemos a enorme falsidade incorporada.

Conversando com uma amiga sobre o absurdo de comer salada no Mc Donald´s, ouvi a célebre frase que entrou em meu mundo. “Comer salada no Mc Donald´s é como ir num puteiro e pedir um abraço!”. Essa frase bateu tão forte que comecei a perceber esse tipo de atitude falsa numa infinidade de atividades diárias.

           

Na teoria de aproveitar a vida enquanto podemos, tenho priorizado atitudes saudáveis ao meu bem estar. Estou praticando ioga, correndo, jogando a minha bola pelo menos uma vez por semana e tentando levar a vida menos a sério. Mas aí, como uma pancada, eu percebo que inúmeras vezes eu me deparo dando um abraço na puta. E o mais estranho é que por mais idiota que pareça, essa abraço me faz bem, pois mentem para minha mente, dizendo que de certa forma eu estou fazendo o correto.

Estamos ali, loucos para tomar uma cerveja com os amigos num happy hour, mas não nos permitimos isso. A mente olha para o físico ... a barriga proeminente e percebo que não vai ser dessa vez, tenho que malhar mais... eu prometi para mim mesmo. Então é isso ... eu não estou satisfeito com o meu corpo. Mas não quero deixar de sair com os amigos ... e enquanto encho a pança de tira-gosto, peço um mate para evitar o refri. GRANDE BULLSHIT !!


           

Mas agora eu vou mais fundo. Não é só na alimentação. Isso ocorre quando aquele companheiro de trabalho sanguessuga, chega e polidamente damos “BOM DIA!” quando na verdade o que desejamos é que ele tenha um infarto e suma da nossa frente para o resto da vida. EHHH ... eu sei ... fui cruel !! Mas não é verdade ? Eu não deveria desejar a morte dele, eu realmente deveria tentar entendê-lo e quem sabe desejar um “bom dia” sincero. 


OPA !! Não quero que saiam todos por aí tratando mal aqueles que vc julga não merecer sua atenção. Ao contrário meu caro. O que nos falta é dedicação no que fazemos. Falta a vontade, o desejo!! Temos que dar sinceros “bom dia”. Temos que olhar mais nos olhos daqueles que nos falam. Prestar mais atenção aos que nos cercam. Precisamos incorporar o sentido do bem ... ao invés de fazê-los para evitar problemas. Devemos incorporar mais o sentido de educação. Tratar os mais velhos com o devido respeito e as crianças com a devida ternura.


Não vejo problema nenhum em abraçar uma PUTA. Mas se vamos num puteiro com outras intenções, esse abraço é falso. Se for para abraçar a PUTA, que seja com vontade, com desejo, com carinho e respeito. Talvez seja disso que ela esteja precisando. A ideia é exatamente essa ... se vai dar um abraço na puta, faça convicto de que é isso que quer e incorpore essa atitude na sua rotina. Mostre a qualidade da sua educação nos seus atos sinceros e não na falsidade de seu cotidiano.