segunda-feira, 23 de julho de 2012

PEÇA INFANTIL – A CILADA 2



           

Esse final de semana eu tive outra experiência única em minha vida. Minha esposa tem uma amiga que é atriz de um teatro infantil e fomos convidados a assistir a peça. Assim que fui informado do teatro, neguei categoricamente a minha presença, dizendo que não havia motivos para comparecer e que minha esposa poderia ir só. Então com uma voz doce e agradável ela me chantageou dizendo que ela precisava da minha companhia. Sem saber sobre o que era a peça, afirmei que peça infantil eu só iria quando tivesse filhos. Sabiamente ela olhou em meus olhos e afirmou que a peça era infanto juvenil e que eu iria gostar. Depois de muito apelar para o bom senso ... e sofrer inúmeras chantagens, eu cedi e fui.

Na entrada o primeiro susto. O nome da peça era “Fantasia – Em busca da Cidade encantada”. Eu nunca tinha visto um nome tão florzinha e infantil. Na mesma hora olhei para cara dela e a fuzilei: “Peça infanto juvenil onde Sr Esposa?”. Ela nem teve a audácia de responder. Quando entramos no recinto, enquanto o teatro não abria, esperamos num jardim. No jardim crianças esperavam com seus pais o começo da tão esperada obra da encenação.


A porta do teatro se abre e as crianças partem como pombos em cima do milho. Os pais desesperados tentam acompanhar o ritmo dos melequentos. Lugares escolhidos e eu resolvi sentar mais atrás, afinal eu já estava deslocado o suficiente nessa situação. Minha esposa percebendo minha ira, não dizia uma palavra. Eu só conseguia pensar no que me esperava. 



           

Todos sentados ... a luz se apaga ... e quando se acende novamente surge um ser que só pode ter sido enviado dos confins do mundo. Claro que no teatro tudo é possível, mas tem que haver bom senso. A criatura que ali se apresentava orgulhosa, era uma sexagenária (no mínimo) com roupinha de coelhinho. O detalhe da roupa era um corpete, que deve ter sido desenhado para ela mesmo ... só que há pelo menos uns 40 anos atrás. Perceber os seios caídos apertados pela roupa foi broxante. Para piorar ela agia como uma menininha ... só que com a desenvoltura de um paquiderme. Trágico!!


Passado o primeiro choque e apresentado o protagonista, surge uma gata. OUTRO SUSTO! A gata de nome Felícia, que se intitulava maravilhosa e sensual tinha a mesma sutileza que um hipopótamo numa loja de cristal. Novamente pura falta de bom senso. Já que é para fazer uma gata ... e a atriz está um tanto fora de forma, põe logo uma roupa que tampe tudo, assim evita que tenhamos que presenciar a sórdida cena dessa coisinha roliça rodopiando e levantando a sua saia rodada enquanto dançava sua música de entrada. O susto foi tão grande que quando ela resolveu brincar com a plateia e conversar com as crianças ... estavam todas com o mais puro pavor no olhar. Se eu que sou mais velho tive que me conter para não entrar em pânico, subir no palco e dar uns tapas nessa gata gorda, imagine a mente dessas pobres crianças ?? Terão pesadelos por muitos anos.

            
 A gata foi embora e eu comecei a agradecer a Deus. Então surgiu a amiga da minha esposa. Durante os primeiros 10 minutos de sua entrada ela só fez dançar. Ninguém sabia quem ela era ... ou o que ela fazia. Entrou com uma música estilo Roberto Leal (aquele português louco que dança o Fado) !! Esvoaçante e com suas saias rodadas enormes ela fazia uma coreografia estranha. Até aí tudo bem ... eu poderia suportar esse golpe, afinal o que aconteceu antes foi bem pior. Ela então se apresentou, era a Morgana (a rainha má da história)... e outra agradável surpresa, sua voz era ótima para o teatro. Um alívio! Porém até o momento nenhuma criança tinha rido ou se animado com a peça.

           

O enredo da história é tão sem pé nem cabeça, que o protagonista ao perder sua inteligência para a malvada Morgana, é socorrido por uma professora que aparece literalmente DO NADA !! Mas para nossa deliciosa surpresa ... a professora paga todo o espetáculo. Tudo bem que a maioria das piadas feitas pelo ator (cujo personagem é a professora) são para um público adulto, então nenhuma criança entende. Mas com certeza ele é um talento no grupo. Tem interpretação fácil e única. Com o tempo certo e com destreza, brinca com a plateia e usa do seu personagem para criticar a situação do ensino no Brasil. Quando ele se permite brincar com as crianças é que a peça ganha vida. Os pequenos que até o momento só observavam a encenação passam a participar do processo e tudo vira diversão. Ponto para a ator !!


A história segue e para me fazer agonizar surge uma fada. Véi ... NA BOA !! Se o lance já era complicado tendo uma gata com as curvas do Garfield, imagine essa mesma atriz num vestidinho de fadinha ?? ISSO MESMO ... FADINHAAAAA !!TENSO NÉ ?? Pois é ... e ela surge toda glamourosa com direito a varinha mágica e tudo mais. Meu coração quase teve um colapso ao ver o quão exprimido estava toda sua forma corporal dentro daquele ínfimo pedaço de pano. Nesse momento as crianças se apavoraram ... e com razão ... eu também ficaria com medo caso estivesse sentado na primeira fila e correndo risco de ser atingido pela explosão da cinta que espremia tudo.

            

Passado o pânico a peça começa a seguir para um desfecho feliz. A Morgana é conduzida para se tornar uma fada do bem ... a fada ALEGRIA. As luzes se apagam ... uma música rola ... umas palavras de feitiço são pronunciadas pela fadinha descrita acima ... e surge a nova fada. Lembram-se da coelhinha ?? ELA MESMO !! Ela entra como a fada Alegria ... uma sexagenária ... num vestidinho de fada !! O lance é tão inexplicável que a professora da história exclama lá do palco: “PARA NOOOOOOOOOOOSSA ALEGRIA surge a fada!!”. Eu fiquei imaginando o que irá acontecer com as pobres crianças que ali estavam. Elas nunca mais terão outra boa ideia de como podem ser as fadas. Toda a sensualidade da Sininho ... ou ainda das belas fadas do Walt Disney serão substituídas pelas tórridas cenas dessas duas fadinhas do teatro que assistiram. Eu que sempre tive uma quedinha pela Liv Tyler desde o dia que ela fez a elfa no Senhor dos anéis, agora só consigo ter pesadelos com fadinhas gordas e velhas que tentam me levar para a cidade encantada ... com uma gata gorda e uma coelhinha anciã !!! 


Mas tudo acabou ... as crianças se salvaram ... não sem sequelas eternas e eu pude correr para o aconchego do meu lar em busca de algo melhor. Liguei a TV e me deparei com ZORRA TOTAL !! Melhor ir dormir !!!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A ARTE DE DIVIDIR A CAMA




Durante todo nosso crescimento jamais somos treinados para o momento único em nossas vidas. O dia em que tomamos a decisão de dividir nossa cama para o resto da vida com a mesma pessoa. Podemos estar casados ou não ... o que importa é a escolha de dormir ao lado dessa pessoa que amamos. Então o local onde amor é acolhido, torna-se um campo de batalha.

Quem tem o prazer de conhecer a minha esposa jamais poderá imaginar as atrocidades que ela comete quando está dormindo. Aquele corpo lindo, delicado e esbelto já fez loucuras na cama. Se você, leitor, está pensando em pornografia ... lamento, não tratarei desse assunto íntimo no meu blog. Estou falando da única disputa que importa na cama ... o travesseiro e o cobertor.

           

Nossa batalha começa como qualquer outra. Primeiro os inimigos se dão as mãos numa tentativa de aliviar as pressões e assim conseguir tempo para preparar as armas da batalha. Toda noite eu me deito na posição que ela melhor se aconchega. Eu fico de barriga para cima e com as mãos no peito. Ela se deita ao meu lado, passa uma perna por cima das minhas, uma mão segura meu braço e a outra passa por cima do meu peito, indo se aconchegar perto de meu rosto. Não é a posição mais confortável para mim ... mas isso não é importante. Enquanto ela adormece eu fico admirando a bela cena da minha mulher envolvendo todo o meu corpo. Uma delícia !! Até o momento em que ela realmente caí no sono.

Minha esposa desenvolveu a técnica de ocupação do território inimigo. O seu travesseiro ela abraça e sua cabeça repousa no meu, me colocando assim na extremidade do mesmo. Para essa mesma técnica ela desenvolveu a capacidade de dormir na diagonal da cama, me mantendo assim no espaço que chamo buraco negro. Apelidei a dobra do colchão com esse nome por um simples fato: quando nos encontramos nele e adormecidos percebemos que não há mais espaço no colchão, automaticamente nosso corpo percebe a atração que esse espaço tem e nos puxa, visando levar-nos para o chão frio e escuro. Claro que com o tempo eu também desenvolvi a técnica de fuga do buraco negro. Uso o meu cutucão noturno e peço gentilmente para que a mesma me libere ao menos mais meio centímetro para que eu consiga respirar sem cair. O inimigo recua abrindo espaço no campo de batalha.



           

Em dias de frio a arma elaborada pela minha mulher é conhecida como casulo. No começo dividíamos a mesma coberta. Que por sinal era KING. Ainda assim ela conseguia me deixar totalmente fora do tecido. Chamo essa arma de casulo pelo formato que ela adquire durante a noite. Enquanto ela se enrola na coberta me resta disputar pelas pontas e usar minha força para desenrola-la. Depois de várias disputas cruéis pelo aconchego do cobertor e ciente das minhas derrotas eu admiti ser fraco nessa batalha e passei a dormir com outra coberta. Na minha noite de estreia com meu próprio cobertor, acordei na madrugada sentindo o frio no corpo. Sonolento, procurei com as mãos minha manta, passando-as pelas laterais da cama. Quando não encontrei, no escuro, me sentei aos pés da cama e fui verificar se a mesma tinha caído no chão. Olhei em volta e nada. Não me restou outra opção senão observar minha esposa. E lá estava minha coberta, formando o maior casulo já visto, um casulo que mantinha minha esposa uns 30 centímetros acima do colchão. Rindo com minha desgraça, acordei-a do seu belo sono e implorei pelo meu cobertor. Desde então só durmo enrolado e instalei um sistema antifurto, que ao menor puxão liga luzes pelo quarto e aciona uma sirene.


Minha esposa desenvolveu armas psicológicas nesse processo. Sua disputa pelo território liberou seu lado mais cruel e hoje ela usa de mecanismos de tortura para me confinar ao menor espaço possível. Certa noite ela acordou e num chamado sensual me disse que iria tirar a calcinha. Se você e casado e sua esposa acorda as 3 horas da madrugada e lhe avisa que irá tirar a calcinha, nosso corpo já se prepara para o amor. Eu já estava todo pimpão !! Então ela se sentou na cama e naquela pose que só as mulheres sabem, retirou sua calcinha, descendo a mesma pelas pernas de uma maneira que jamais irei esquecer. Jogou o tecido no canto do quarto e se deitou. Pronto ... eu virei de barriga para cima e esperei o ataque. Logo em seguida a minha deliciosa esposa voltou-se para o travesseiro como se nada tivesse ocorrido. Fiquei ali feito um bobo, achando que ela ainda iria me chamar ... ou me agarrar. Quando alguns poucos segundos haviam se passado e ela não demonstrou reação fui verificar o seu estado, constato portanto, que ela dorme no melhor sono. Excitado e confuso demorei um bom tempo para voltar a dormir e fiquei encolhido no meu cantinho.

           

Minha única arma natural nesse processo é o meu ronco. Uso esse mecanismo numa tentativa única de colocá-la distante de mim. Mas meu amor se adapta com rapidez e o que antes era um barulho irritante se tornou música para os ouvidos dela. Sinto que nessa disputa eu estou ficando cada vez mais fraco.

Admito porém que o mais complicado de todo esse processo é conseguir dormir quando estou longe dela. Fico sempre com a sensação de que falta algo ... talvez seja a emoção da luta noturna ... talvez seja só a saudade dos seus pezinhos gelados em minhas costas durante a noite !! Jamais saberei !!!

terça-feira, 10 de julho de 2012

O CALOR DO METRÔ


Morando no Rio de Janeiro, diariamente vou e volto para o trabalho no delicioso transporte público de massa ... o METRÔ!! Minha escolha por esse transporte é diretamente relacionada com o prazer que ele me proporciona. Claro que para quem mora nessa linda cidade esse transporte é conhecido, assim como o prazer que se instala em cada viagem feita nos horários de pico. Porém, como sou mineiro e tenho inúmeros amigos e familiares que jamais tiveram essa oportunidade única em suas vidas, resolvi descrever esses momentos mágicos que tenho de puro frisson e dividi-los com vocês.

A situação é bem simples. Final do expediente e cansado com a jornada de trabalho, dirijo-me para a estação de Metrô. Passo o cartão de embarque na roleta e desço para o terminal. É nesse momento que tudo vira romance. A primeira coisa que tenho que fazer é escolher em qual das entradas irei ficar. No piso do terminal há adesivos marcando o local de parada das portas do vagão, indicando, assim, onde devemos esperar para poder adentrar no trem. Ressalto, portanto, que em todos os locais há um aglomerado de pessoas que aguardam atentamente a chegada do próximo trem. Escolho qual massa irei participar e me infiltro.




Alguns minutos depois, o metrô se aproxima. Estamos todos ali, aguardando no local esperado, local este marcado pelos adesivos no piso, e enquanto o vagão não para, a massa se aglomera e se consolida. Nesse instante, meus pés são retirados do chão. É o delicioso momento em que descanso os meus pés do intenso dia de trabalho. Enquanto os vagões vão passando, percebemos como estão lotados e como será inviável a entrada de qualquer outro ser vivo lá dentro... mesmo que seja um vírus. Há então o momento cômico. O condutor, que deve ser um indivíduo dotado de extremo humor, para o trem alguns metros fora da faixa marcada no piso. Então, toda aquela ultidão que aguarda de forma paciente a abertura das portas no local indicado percebe que o trem não parou no local correto e, num ato de movimento rítmico, se desloca inteira. Eu continuo no ar e minha única preocupação nesse momento é agradecer à mãe desse ser divino que tão habilmente melhora o final do meu dia.

As portas se abrem. Visivelmente não há lugar para as pessoas, porém o espírito de grupo, companheirismo e educação tomam o lugar e todos se apertam para que aqueles que estão do lado de fora possam entrar sem sacrifício e com todo aconchego de um show de rock. Eu poderia esperar um pouco mais para ir num próximo trem, talvez mais vazio, nunca se sabe. Mas quero lembrá-los de que meus pés não estavam no chão ... a massa decide por mim e de forma compacta coloca todas as suas células dentro do vagão, nem que para isso alguém tenha que ficar com a cara colada na porta.

                   


Lá dentro, sendo encoxado por um rústico pedreiro e com a cara enfiada no sovaco de outro, a primeira percepção do meu cérebro é o agradável odor. Imaginem, queridos leitores: final do expediente, Rio de Janeiro, calor, um dia de trabalho braçal... o perfume no ar é revigorante!! Como minha estatura é um tanto beneficiada, meu nariz me dá o imensurável prazer de ficar na exata altura das glândulas odoríferas desses perfumados cidadãos. Minha única tristeza é que estou tão compactado com a massa que meus pulmões não conseguem aproveitar ao máximo sua capacidade respiratória para inflar com toda força e, assim, se deliciarem com esse aroma, algo muito parecido com bouquet campestre. 

Mas, como se não bastasse o prazer que tenho pelo perfume, Deus criou os seres e deu a eles o extremo bom gosto musical. O carioca da periferia é um indivíduo abençoado com ouvidos divinos. O dom acústico é tamanho que essas pessoas amáveis nos dão o enorme prazer de compartilhar as obras-primas da composição musical brasileira ... o FUNK !! Essa deliciosa música acalma a multidão e coloca todos em estado de transe. Ficamos ali, absorvidos por toda beleza dos refrões e das harmoniosas batidas. Meu cérebro, nesse momento, é tomado por um prazer inenarrável.
           
           

Embriagado com todo esse odor e som, permaneço imóvel por três estações. Minha imobilidade é voluntária, já que a massa sempre me permite movimentar os dedos da mão e dos pés. Na terceira estação, eu já começo a me entristecer, pois todo esse carinho irá me abandonar. Nessa momento, a massa desce para trocar de transporte e eu, infelizmente, irei continuar a viagem. Quando o metrô começa a desacelerar, a multidão inicia o processo de movimentação rítmica e num movimento compassado, todos se voltam para a porta pela qual irão passar. Como meus pés ainda não estão no chão e como sou tímido, eu não conto aos demais companheiros que não pretendo descer. Portanto, sou carregado pelos queridos amigos para fora do vagão. Claro que lá fora eu consigo retornar ao embarque, mas isso só ocorre alguns metros depois, quando, finalmente, eu toco o solo. Esse é o único momento que tenho que agir por conta própria e com eficiência, pois só me restam alguns segundos para voltar ao vagão antes que a porta se feche e eu tenha que esperar pelo próximo. Esse é o momento em que minha altura é mais uma vez beneficiada, afinal consigo me infiltrar na multidão no sentido contrário e, assim, arrumo espaço para estar novamente no vagão.

No interior uma sensação de vazio ocupa meu peito. Todos aqueles que estavam ali e que com todo amor e educação me cercavam, me abandonaram. Terei de esperar mais cinco estações até chegar casa e, nesse percurso, sempre agradeço a Deus pela existência do transporte de massa, pela boa educação do povo brasileiro, pelo calor gostoso da cidade do Rio e mais ainda, por me dar a oportunidade de vivenciar essa experiência todos os dias da semana.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Aniversário de 1 ano - A CILADA

Tá confirmado. Aniversário de um ano é uma loucura. E nem me venha com essa de que a criança vai lembrar desse momento, ou que as fotos mostrarão o quanto ela é amada. Na verdade são só os pais e a família mostrando ao mundo como podem fazer um festa linda. 

Eu tenho um afilhado que fez nesse último fim de semana a comemorada data de 1 ano. E assim como toda a família eu participei do processo de produção e montagem de todo esse evento. Claro que se eu soubesse teria fugido para as montanhas, mas minha esposa provavelmente teria me encontrado nos confins do mundo, teria me dado uma boa bronca e, ainda sim, eu participaria de todo o processo. Assim sendo, por livre e espontânea pressão ... eu fui !!


Para começar eu tive que deixar o Rio de Janeiro em direção ao interior de Minas. Eu amo os recantos desse estado acolhedor no qual nasci, mas admito que percorrer 530 km é um tanto cansativo. Pior ainda quando sabemos que iremos percorrer esse mesmo percurso para voltar em menos de 48 horas. 


Cheguei na casa de meus sogros as 20:00 de sexta e o caos já estava instalado. Eram panelas enormes com canjiquinhas e feijão amigo por todas as partes. Enfeites de mesa com tinta, gliter e cola em todas as mesas ... e para finalizar não havia uma só cama desocupada. Isso sem falar no entra e sai de pessoas que estavam participando do evento. Tias, tios, vizinhos, amigos, primos e algumas outras pessoas que eu não faço a menor ideia do porque estavam envolvidas. TODAS FALANDO AO MESMO TEMPO!!


Quando cheguei minha fome era cruel ... e fui logo experimentando a canjiquinha e os doces infantis. Fome saciada, eu já estava preparado para ajudar. Então me avisaram que no momento não havia muito o que fazer. Eu deveria tomar um banho e descansar, pois minha ajuda seria solicitada no dia seguinte. Preocupado com essa informação eu tomei meu banho e fui logo arrumando um cantinho para dormir. Era uma cilada!



Eu lembro de ter me deitado perto das 23:00 ... mas meu cérebro custou a processar que minha sogra já estava lavando louça e limpando a cozinha as 6:00 do dia seguinte. Quando me dei conta eram 6:30 e a casa toda estava de pé e numa atividade frenética. Só eu parecia um zumbi zanzando pela cozinha, procurando algo para tomar de café da manhã (acho que só um energético resolveria). Mas nem deu tempo de comer algo, fui logo convocado a ajudar o meu cunhado (pai da criança) no processo de transporte de todas as coisas para o local da festa.

Quando cheguei no local eu percebi o tamanho do problema. Seriam 150 convidados e não tinha nada no lugar nem limpo. Eram pilhas de cadeiras e mesas sujas dentro da minúscula cozinha do lugar, que deveria em breve ser ocupada pela minha sogra e companhia. Só um amigo e eu para tirá-las lá de dentro. Minhas costas ainda vão lembrar por muito tempo dessas cadeiras de plástico e no peso que possuem.

Assim que desocupamos a cozinha e colocamos tudo o que precisava para dentro, minha sogra chegou com um sacola de cebolinha. Vou ressaltar a cena, para que entendam melhor o drama. Era um bolsa reciclável lotada de molhos de cebolinha. Na minha conta eu lavei 12 molhos e outro amigo mais umas 8, porém ainda restaram no mínimo uns 5 molhos. Se você está se perguntando para quê tanta cebolinha, bem vindo ao meu clube. Deve fazer parte da insanidade e do exagero de uma festa como essa. O que importa é que fui voto vencido e além de lavá-las eu tive que cortá-las em pequenos pedaços circulares para que pudessem ser servidas em potinhos na mesa. Meu último sonho tinham cebolinhas tentando me devorar!!







Quando eu pensei que nenhum exagero poderia ser maior do que as cebolinhas, vieram os alhos. Tem 4 dias que nenhum mosquito se aproxima de mim. Minhas mãos são, até o momento, o melhor repelente que já tive, embora minha esposa não esteja achando tanta graça. Foram quilos de alho descascados e amassados, todos para temperar os 2 caldeirões (desses das bruxas más dos desenhos infantis) de canjiquinha, os 2 de feijão amigo (caldinho de feijão) e o patê de ricota com alho. Trabalhamos nesse processo como num fábrica com produção em série. Duas pessoas descascavam e outras duas ralavam o alho. Eu revessei meus turnos, ficando assim um pouco em cada função. Porém na função de ralador eu admito que uma boa parte dos dedos fora ralada junto. Nada de impressões digitais pelo próximo mês.

Até então só trabalho escravo e sem alimentação. Sugeriu-se um churrasco que poderia ser feito na churrasqueira do local e seria servido no almoço. Juntamos a grana com a galera, compramos tudo, fizemos e comemos ... mas nem por isso paramos de trabalhar. Enquanto eu engolia um ou outro pedaço de carne, fui encarregado de fazer o patê, especialidade da minha família. Agora calculem a quantidade de ricota e maionese para servir 150 pessoas? Pois é leitor, sua conta jamais irá se aproximar da realidade que encontrei. Eu fiz a mistura no que chamaram de bacia, mas para meu diminuto tamanho serviria muito bem como banheira. Meu grande problema com essas dimensões foi misturar todos os ingredientes. Só após conseguir uma colher tamanho “pá de pedreiro” é que consegui bons resultados.

Eu já estava assustado com toda essa comida, quando chegou um carro e descarregou inúmeras embalagens de salsichas. Eu comecei a achar nesse momento que a festa duraria dias. Só assim poderiam consumir toda aquela comida. Questionei minha esposa a necessidade de tudo aquilo e a resposta foi: “São 150 pessoas amor, apenas 2 salsichas e meia para cada um!”. Pô, duas salsichas para cada pessoa é pouco, concordo, mas e a pipoca, o caldinho, a canjiquinha, os doces, o patê e aquela quantidade enorme de cebolinha? Só se essas 150 pessoas estivessem passando fome há pelo menos umas 2 décadas. Novamente não me deram ouvido e ainda afirmaram, melhor sobrar do que faltar. E eu pensando que aquilo tudo serviria para matar a fome de muitos africanos.




Passei a tarde auxiliando no transporte de doces e arrumando mesas. Quando o relógio marcou 16:00 minha esposa me chamou para ir para casa tomar banho e nos prepararmos para festa que estava marcada para as 17:00. Fomos para casa, tomei meu banho, usei todo o tipo de sabonete para tentar limpar o cheiro de alho das mãos, me arrumei e esperei ela se arrumar durante 45 minutos (um recorde considerando o tempo habitual). Chegamos e a festa estava linda e decorada. Todos sorriam e comiam e bebiam, exceto o aniversariante que só queria saber do pula-pula e da TV que passava incessantemente o DVD do Patatí e do Patatá. Nosso afilhado mal cantou os parabéns e apagou no colo da mãe. Junto com ele eu dormia sentado na cadeira. A festa acabou em 3 horas e eu me dei conta que estava novamente transportando tudo para a casa do meu sogro. Dormi exausto e meu corpo todo pedia repouso. No dia seguinte minha sogra acordou no mesmo horário do dia anterior, assim como toda a casa junto com ela. Nesse momento eu levantei, corri para o carro, e numa tentativa desesperada de ir embora fui lavá-lo, para voltar para casa o quanto antes e poder dormir em paz.

O único comentário da festa que está fixado na minha memória foi a ideia de fazer outra melhor no ano que vem. Eu estou pretendendo viajar para o UBEQUISTÃO nessa época do ano, não sei por quê ?!