UM PEDAÇO DE CÉU

Nessa confusão de vida, dividindo o tempo com o trânsito, com o trabalho, com o mercado, com estudos, com academia e ainda tentando dar atenção a mulher e realizar alguns dos seus poucos desejos, eu percebo que estou mesmo precisando de um tempo para colocar a mente no lugar.

Faz 3 anos que não consigo visitar o meu pedaço de paraíso e assim meditar, esquecer problemas, refletir sobre minhas expectativas e meus anseios, traçar metas eficazes e assim me encontrar.

Todo homem deveria ter um lugar assim. É importante nos encontrarmos!! Nossas vidas andam tão desajustadas que não percebemos as inúmeras oportunidades que perdemos. Não vou me ater ao falatório habitual dos livros de autoajuda. Aquele BLA BLA BLA sobre fazer o que amamos, sobre tomar a atitude pensando no nosso bem-estar, sobre viver o momento como se fosse único ... e por aí vai. Não creio que podemos simplesmente largar tudo e ir morar na praia vendendo coco. Pessoas estão envolvidas nesse processo de decisão. Eu tenho mulher e pretendo ter filhos. Não posso decidir fazer isso e carregá-los para, seja lá onde for, só porque me deu vontade. A vida exige equilíbrio. Mas eu posso traçar uma meta de vender cocos na praia um dia ... e meditando ... me encontrar ... perceber esse caminho e direcionar minha vida para esse processo.

Três Marias é o lugar que escolhi para todo esse processo interno. Um lugarzinho no meio do sertão mineiro. Às margens do Rio São Fransisco e com a menor interferência tecnológica possível. Acalmem-se, não sou contra tecnologia, só que nesses momentos de introspecção acredito que a melhor maneira de fazer com que a entidade sagrada que habita meu corpo seja explorada de forma lúcida é afastar minha ânsia por tecnologia.

Eu demoro cerca de 3 dias para realmente relaxar. Nesses primeiros dias meu corpo ainda está se acostumando a dormir cedo e acordar cedo. Meus ouvidos demoram para esquecer as letras das músicas e as batidas, para finalmente ouvir os sons naturais. Para mim o som mais puro e de maior valor é o som das águas. Aquele suave deslizar constante do Velho Chico sobre as pedras em seu caminho. Nas infinitas horas que me proponho a pescar eu encontro uma paz quase absoluta. Fico sempre com a imagem de velhos pescadores orientais. Ali eu digo que há um momento mágico, onde percebo que o meu ser está em ressonância com a natureza. Vibramos na mesma frequência, portanto me sinto parte única de toda essa mágica que nos rodeia. É nesse momento que me descubro.

Quando me percebo integro e naturalmente existente, minha mente se enche de algo que chamo de LUZ. Consigo traçar metas, entender meus relacionamentos com os pais, irmãos, mulher, chefe, amigos e todo o tipo de relação que temos diariamente. Eu passo a focar nas pessoas e entender suas falhas e seus pontos fortes. Percebo meus erros e assim me esforço para mudar. Me perdoo entre uma lágrima e outra sobre os erros que cometi. Perdoo também aqueles que de uma forma ou de outra me prejudicaram ou me quiseram mal. 

Enquanto o sol vai se pondo o mundo fica mais esclarecedor e minhas frustrações somem como os últimos raios de sol. O cheiro de terra molhada pelo orvalho na manhã do dia seguinte penetram meu corpo preenchendo meus pulmões de energia.

 

            Se você não tem um local como o citado acima ... sem problemas. Basta encontrar um local que te traga paz, um local onde perceba sua mente mais leve e suas recordações sejam boas. Algumas vezes precisamos parar ... respirar ... levantar a cabeça e nortearmos nosso rumo para podermos seguir em frente com nossos objetivos !!